O MOMENTO É AGORA: NÃO DEIXE PARA AMANHÃ
Ainda não é a hora. Tudo tem seu tempo. Acabei de trocar de
emprego. Já está no final do ano, ano que vem eu faço. Deixa passar o carnaval.
Preciso terminar meu curso antes... são todas explicações muito comuns para
adiar algo e, certamente todos nós já as demos diversas vezes. Para nós mesmos
e para os outros.
Sim, em alguns momentos, é muito importante esperar mesmo, amadurecer
algo antes de definir, resolver questões que prejudicam o andamento de um plano
específico. É importante esperar, mas é muito importante realizar, muito mesmo.
O maior problema é se o esperar ganha sempre do realizar. Planejar
é necessário como o 1º degrau da execução, mas se não existirem os próximos passos,
o plano se torna um sonho, ou seja, algo bem distante da realização que mora
somente no plano da imaginação, das ideias.
Quantas pessoas já não tiveram uma grande ideia que um dia
viram executadas por outra pessoa? Ou planejaram fazer um curso novo, mudar de
emprego? Nenhuma decisão é fácil de ser tomada, principalmente se essa decisão afeta
a vida amplamente como mudar de profissão, ter um filho, comprar uma casa, mudar
de cidade ou de país. Todas as possibilidades estão no mundo e são possíveis de
serem vividas, por isso a cada dia escolhemos quais vamos viver e quais vamos deixar
passar sem experimentar. São decisões constantes e rotineiras que nem
percebemos serem tomadas, faz parte do dia-a-dia. Outras são decisões mais
complexas que exigem tempo para serem tomadas.
Porém, são essas grandes decisões que interferem
diretamente no curso da vida, que falam de uma necessidade de mudança, de um
incômodo que diz que como está, não está bom, que algo precisa mudar. É o
incomodo que leva à mudança. Sentir que algo não vai bem, que as coisas não estão
encaixadas, é bom e é necessário para que um novo equilíbrio se estabeleça.
Jung ([1928]2008) garante que a perda de equilíbrio é algo
necessário e importante para o desenvolvimento, “pois substitui uma consciência
falha, pela atividade automática e instintiva do inconsciente, que sempre visa
à criação de um novo equilíbrio(...)” (§ 253). É necessário esse confronto entre o
inconsciente e o consciente para que o saber do inconsciente possa ser acessado
e traduzido e, assim, incorporado na nova forma de se apresentar ao mundo.
A forma como a pessoa se mostra para o mundo muitas vezes
tem um peso muito grande nas decisões tomadas, já que determinadas decisões
podem mudar a maneira como uma pessoa é vista pelos que a rodeiam. Essa questão
nos dá um indício da dificuldade não só de tomar uma decisão que mude algo
significativo na vida como também de manter a decisão tomada. É imperativo
lidar com as expectativas frustradas, com sentimentos contraditórios, com a
sensação de que se está no caminho certo em contradição com o que outros
esperam e, muitas vezes, até mesmo com o que espera de si mesmo.
Não devemos esquecer para não esmorecer diante dos
problemas e dificuldades que a mudança traz, que a persona – papel social que
desempenhamos – é mutável e assim deve ser, já que:
“(...) no fundo nada tem de real; ela
representa um compromisso entre o indivíduo e a sociedade, acerca daquilo que alguém
deve ser (...) resultam de um compromisso no qual outros podem ter uma quota
maior que a do indivíduo em questão” (JUNG, [1928] 2008, §246).
Se esse novo equilíbrio é alcançado a pessoa caminha
novamente de acordo com seu centro, com sua verdade. E a sensação de que se
está no caminho certo surge. Claro que dúvidas surgirão, medos, angustias e
novos desequilíbrios, mas são esses reajustes constantes que fazem a vida
caminhar, se organizar. É necessário força, coragem e persistência para que a
constante necessidade de mudança possa ser aceita plenamente e, com isso, se
possa viver verdadeiramente.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
JUNG, C.G. O Eu e o Inconsciente. Vol. 7/2. 21ª
ed. Petrópolis: Vozes, [1928] 2008a.