Lilian Garcia de Paula Cintra

Minha foto
São Paulo, São Paulo, Brazil
Lilian Garcia de Paula Cintra CRP 06/77515 Psicóloga mestre formada pela Universidade Mackenzie com mestrado em psicologia clínica pela PUC -SP. Aprimoramento pela Fundap - Cratod em Dependências e Saúde Mental e Pós graduação em Abordagem Junguiana pela PUC SP. Clínica localizada em Perdizes/ Barra Funda prox ao metrô Barra Funda - adultos, adolescentes, idosos e casais. Psicóloga com experiência em situações de crise, abrigamentos e coordenação de equipe. site: https://www.psicologiabarrafunda.com/ (11) 99964-8509 / 2366-6249

quinta-feira, 5 de abril de 2018

A depressão na família

fonte imagem: www.vemvercidade.com.br

Depressão é uma doença tão difícil para quem vive quanto para aqueles que estão ao redor. Muitas vezes, ela é um sintoma de algo maior, uma resposta a uma situação vivida e, outras vezes, ela faz parte da constituição da pessoa, está lá desde sempre. Pode se tornar uma situação, em muito, incapacitante e pode vir atrelada a diversas outras questões ou transtornos.

A depressão causa um sentimento constante de inabilidade, de incerteza, de falta. Ela se traduz de diversas formas diferentes, nenhuma mais ou menos sofrida que a outra, mas as vezes, mais destrutiva. Não ter forças para fazer as tarefas diárias, cumprir com as obrigações de rotina é a forma mais visível da depressão, mas de forma alguma a única. Muitas vezes, ela se traduz em raiva/ irritabilidade constante, em um sentimento de desamparo e uma inabilidade de pedir colo, em tristeza sem motivo, em sentimento de inadequação. Podem ser vários desses e outros ainda, mas nunca um só.

Às vezes, a depressão surge como um sintoma de outro transtorno, o que dificulta ser enxergada ou, ainda, ela acaba por mascarar o que realmente está acontecendo. É uma doença multifacetada, ampla e perigosa que precisa ser avaliada com cuidado pelos profissionais e abordada na interface entre paciente e família para seu real entendimento e possibilidade de melhora dos sintomas.

A família é o local onde passamos a existir, é na interação com o pai, a mãe, irmãos, avós, entre outros, que nos constituímos como pessoas e que nossas características mais pessoais, mais individuais se constituem. Essas características são mais ou menos aceitas, mais ou menos estimuladas dentro da família, de acordo com a dinâmica de cada estrutura familiar.

Amor, proteção, carinho, cuidado são questões de necessidade maior em todos nós. Entender nossos limites, os limites do mundo, até onde cada um pode ir sem machucar o outro, perceber o tempo de cada coisa, as negativas que o mundo as vezes dá para coisas que queremos, também são de extrema importância e entender tudo isso vem junto com o amor. Na verdade, amor e limite andam juntos! Tudo que excede para um lado pode levar a um sentimento negativo de outro. Por exemplo: proteção excessiva dos pais pode levar a adultos inseguros e despreparados para a vida. Se visto somente por um lado, proteger os filhos nunca deveria se ruim, mas quando essa proteção impede o ‘des/envolvimento’ da pessoa, então, sim se torna um problema. E um problema vestido de amor... sem dúvida, nesse caso, não é a falta dele e sim a dificuldade de colocar na hora e dose mais acertada para cada um.

Todos querem ser aceitos pelo que são, pelas suas escolhas. Muitas vezes, ser quem se é implica em se fazer notar nas suas necessidades e vontades que podem ser bem diferente das do restante da família. E isso é bem difícil. Por outro lado, a família que busca fazer o que acredita ser o melhor para cada membro, sente-se impotente como sistema, o sentimento de culpa impera e isso causa ainda mais dor e sofrimento a todos.

Pois bem, daí uma pessoa que tem uma vida estruturada, com amor, cuidado, de repente se vê as voltas com uma situação tão ruim e é diagnosticada com depressão. Automaticamente vem a pergunta, mas por quê? E essa pergunta é feita por todos da família, inclusive por ela mesma. E, notem, não estou aqui falando somente de jovens, crianças depressivas, inseridas na família de origem, mas também de mulheres/ homens, mães e pais que já estão em sua família constituída e tem depressão.

Começam a busca por culpados: é o casamento, são os filhos, os pais, o trabalho..., mas na verdade, muito provavelmente, não é nenhuma dessas situações isoladas, talvez (e muito provavelmente) não se ache uma única razão, mas sem dúvida, a pessoa está se deixando para traz em algum lugar, em algum aspecto.

Ser quem se é de verdade não só não é fácil como requer uma dose de coragem extra e verdadeiramente grande. Por pior que esteja, o movimento de sempre é confortável, os sintomas são conhecidos e todos já se adaptaram a eles... por pior que seja. Mudar requer uma readaptação de todos. Cada um que já passou por mudanças significativas na vida, vindas de fora, como perda de emprego, morte de um membro importante da família, sabe o quanto é difícil se readaptar, mesmo que no final a mudança seja positiva, por exemplo uma mudança no rumo profissional há muito adiada. Essa readaptação mexe com a vida de todos, todos precisam rever sua posição dentro daquele sistema, todos precisam se responsabilizar por coisas novas.

Isso não é diferente quando falamos de um transtorno como a depressão, por pior que seja, sua exclusão de um sistema familiar também causa mudanças nem sempre fáceis de serem reorganizadas. Quantas vezes não me deparei com situações nos atendimentos em que um sintoma deixa de ser tão mobilizador em uma pessoa e outro surge em algum outro membro da família. É claro que ninguém quer sofrer, isso não ocorre propositalmente, surge como uma possível tentativa de manter o sistema funcionando. Também não estou dizendo que isso ocorre em todos os casos, mas em muitos. É importante, assim, sempre prestar atenção no ambiente em que a pessoa está inserida, em trabalhar a conscientização do papel de todos naquele sistema familiar, mesmo em uma psicoterapia individual. A pessoa nunca está sozinha em tratamento, sua família está com ela.