Lilian Garcia de Paula Cintra

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São Paulo, São Paulo, Brazil
Lilian Garcia de Paula Cintra CRP 06/77515 Psicóloga mestre formada pela Universidade Mackenzie com mestrado em psicologia clínica pela PUC -SP. Aprimoramento pela Fundap - Cratod em Dependências e Saúde Mental e Pós graduação em Abordagem Junguiana pela PUC SP. Clínica localizada em Perdizes/ Barra Funda prox ao metrô Barra Funda - adultos, adolescentes, idosos e casais. Psicóloga com experiência em situações de crise, abrigamentos e coordenação de equipe. site: https://www.psicologiabarrafunda.com/ (11) 99964-8509 / 2366-6249

domingo, 13 de maio de 2018

DEUSA DEMÉTER: A MÃE

Ainda em comemoração ao dia das mães, vou falar um pouco sobre as mulheres que tem fortemente em sua consciência aspectos de Deméter, a deusa mãe na mitologia grega. 

Todas as pessoas trazem aspectos maternos em si, mas quando se tornam mães, isso tende a ser mais forte, mais presente. É importante percebermos tudo de positivo que a deusa traz para nossa consciência, mas também, como símbolo do arquétipo da Grande Mãe, a destrutividade que ela carrega e que também está presente em nós. A conscientização é o que permite lidarmos melhor com todas as possibilidades que a maternagem nos traz. 

No mito, Deméter é a deusa mãe de Coré, uma menina linda, mas que apesar de adulta, ainda se comporta como criança. Coré é raptada por Hades e torna-se sua esposa, mudando seu nome para Perséfone. Deméter procura incansavelmente pela filha e não encontra. Então, decide que nada mais nascerá nem frutificará até o momento em que a filha seja devolvida a ela. Zeus intercede e ela consegue sua filha de volta por metade do ano e a terra volta a ser fértil. 

Podemos perceber, então, tanto as questões nutridoras e protetoras quanto as destrutivas presentes na Grande Mãe. Uma mulher-Deméter é mãe em essência, sua vida é voltada ao cuidado com o outro, com o carinho pelas pessoas, o aconchego. É aquela mulher de quem estar perto traz a sensação de conforto, bem-estar, proteção. Sabe quela pessoa que sempre tem algo pra oferecer quando estamos em sua casa, que se preocupa se estamos bem, confortáveis? Cuidar, alimentar, acalentar, proteger são características essenciais para ela. Seja com seus filhos, com seus animais de estimação, com outras crianças ou mesmo adultos. Muitas vezes, os maridos são cuidados como filhos crescidos. 

Por outro lado, é possível imaginar como uma mulher-Deméter fica quando seus filhos crescem, não? Quando não precisam mais de seus cuidados básicos? Principalmente quando sua vida é cuidar deles, essencialmente. Pois bem, é bastante sofrido tanto para a própria mulher quanto para a família toda. Se não tem muita consciência disso em sua vida, a mulher sofre muito e pode causar culpa em seus filhos por crescer e não precisar mais dela, pode dificultar seus desenvolvimentos. A mulher- Deméter precisa perceber a real necessidade de cuidar e buscar para sua vida locais e projetos onde o cuidado que propicia seja essencial. Aprender a cuidar de si mesma, trabalhar com pessoas que precisem de cuidados em funções como enfermagem, assistência social, babá, professora são possibilidades que permitem atualizar a deusa em si de forma produtiva.

É importante termos consciência dessas características em nossa personalidade, todos temos mais ou menos presente em nossa consciência essa deusa. Entender, acolher, perceber o que significa traz a possibilidade de agir de acordo com o que realmente acreditamos ser melhor e nos liberta do agir inconscientemente frente às demandas da vida. 

domingo, 6 de maio de 2018

DEUSA PERSÉFONE: ETERNA FILHA, RAINHA DO MUNDO OCULTO
“Sinto como se não estivesse no meu corpo”, “acordo com uma tristeza que não sei o motivo”, “sinto vontade de voltar pra casa, mesmo em casa”, “sinto que vivencio sentimentos que mais ninguém sente”, “não quero ser dependente de ninguém, mas no meu íntimo, é o que acabo buscando”, “consigo escrever com facilidade sobre sentimentos e aflições humanas”, “meu mundo interno é imensamente intenso”, “desconhecidos costumam se abrir comigo, mesmo que eu não queira”, “a espiritualidade me completa”. Todas essas questões embasam a experiência de ser uma mulher-Perséfone, com todas as dores – e são muitas – e as vivências profundas que só a Perséfone propicia.

Vamos ao mito, então: Perséfone nasce Coré, filha de Deméter, deusa mãe. Mesmo adulta, é ingênua, infantil, até. Vive com a mãe, é dependente dela, não tem uma vida construída por si mesma. Até um dia que Hades, deus dos ínferos, encantado por sua beleza, cria uma armadilha para capturar Coré e casar-se com ela. A partir de então, Coré torna-se Perséfone, rainha do mundo dos ínferos, dos mortos. Sua mãe se revolta contra seu sumiço e pune o mundo por isso, até que sua filha volte. Nesse momento, Zeus decide interferir e pede que seu irmão, Hades, encontre uma saída. Perséfone passa, então e viver meio ano com seu marido, no mundo oculto, e meio ano com a mãe.
Viver metade do tempo no mundo oculto representa realmente o que ocorre com a mulher-Perséfone, ela vive intensamente no mundo interno, no mundo oculto, no inconsciente. As vivências internas que ela tem são tão intensas que chegam a trazer uma sensação física, às vezes, ou seja, a mulher pode descrever como “senti o toque”, “o frio”, “o tapa”. Podem acordar de um sonho, por exemplo, tendo a certeza de que algo realmente aconteceu.
Essa ligação real e extrema com o mundo não visível traz também, a sensação de que podem se perder em si mesmas, que falta controle sobre seus sentimentos, suas ações. O medo de surtar é algo muito frequente entre mulheres- Perséfone. Quando conseguem equilibrar esse medo, as sensações que as invadem, filtrar, colocar os pés mais bem plantados no mundo real, essa grande imersão no mundo inconsciente faz com que as mulheres-Perséfone entendam, como ninguém, as vivências humanas. Podem tornar-se verdadeiros guias de almas.
Ajudar outras pessoas a passar por essas vivências internas é algo que faz muito sentido para as mulheres-Perséfone. Assim, podem escolher profissões em que o ajudar as pessoas esteja presente como psicóloga, enfermeira, professora, escritora. Escrever, a propósito, é muito prazeroso e, até necessário, para uma mulher-Perséfone, é uma forma de se organizar internamente.
Entender essas características permite que possamos reconhecer nas mulheres com quem convivemos essa forma de ser, além de entender o quanto essa deusa está presente ou ausente em nossas vidas, para podermos equilibrar da melhor forma nossa vivência no mundo. Claramente, Perséfone é essencial para nossa profundidade humana.
DEUSA ATENA: MULHER GUERREIRA, JUSTA E IMPLACÁVEL

Vamos falar um pouco sobre as mulheres que tem as características de Atena mais atualizadas, mais presentes em si. São mulheres fortes, independentes, buscam se relacionar com as pessoas - homens ou mulheres- como pares, iguais. São líderes natas, desbravadoras. Todas características que temos ou que precisamos buscar em nossas vidas. 

Porém, quem tem Atena muito presente, também tem, por outro lado, um aspecto duro na visão das pessoas, são vistas como críticas, impenetráveis, até. Tem certa dificuldade em estabelecer relacionamentos, principalmente aqueles do dia-a-dia, mais superficiais. Normalmente, tem poucos amigos. 

Por sua capacidade de liderança e discriminação, a mulher-Atena normalmente é vista como a que planeja, a que influencia os outros, a dona da decisão. Sempre, nossas características, trazem lado bom e ruim. A deusa Atena, por suas características tão ligadas à independência e garra, características essas buscadas pelas mulheres em suas vidas, é vista, normalmente, somente do lado positivo, mas também é importante apontarmos o outro lado da história: muitas vezes a mulher-Atena, apesar de sua força, sente-se sozinha e julgada por suas atitudes. Muitas vezes, é realmente dura em suas colocações. 

Atena, a deusa, nasceu da cabeça de seu pai, Zeus. Ela é ligada ao pensamento e é uma deusa guerreira. É uma deusa virgem, no sentido literal da palavra, ou seja, ela basta a si mesma. Não precisa de relações com outros deuses ou pessoas para cumprir suas funções, não busca casar-se, suas relações com homens e deuses são de parceria ou rivalidade. É a deusa da justiça. 

Tendo em vista todas essas questões, podemos pensar em mulheres que conhecemos com essas características - e buscar entender quem são. Muitas vezes, ocupam  posição de chefia nas empresas. Entender  o quanto Atena está presente ou ausente em nós para buscar melhorar algumas características ou aprimorar o que nos falta é essencial ao desenvolvimento de uma personalidade mais plena. 

São características fundamentais a todas as mulheres, afinal.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

A depressão na família

fonte imagem: www.vemvercidade.com.br

Depressão é uma doença tão difícil para quem vive quanto para aqueles que estão ao redor. Muitas vezes, ela é um sintoma de algo maior, uma resposta a uma situação vivida e, outras vezes, ela faz parte da constituição da pessoa, está lá desde sempre. Pode se tornar uma situação, em muito, incapacitante e pode vir atrelada a diversas outras questões ou transtornos.

A depressão causa um sentimento constante de inabilidade, de incerteza, de falta. Ela se traduz de diversas formas diferentes, nenhuma mais ou menos sofrida que a outra, mas as vezes, mais destrutiva. Não ter forças para fazer as tarefas diárias, cumprir com as obrigações de rotina é a forma mais visível da depressão, mas de forma alguma a única. Muitas vezes, ela se traduz em raiva/ irritabilidade constante, em um sentimento de desamparo e uma inabilidade de pedir colo, em tristeza sem motivo, em sentimento de inadequação. Podem ser vários desses e outros ainda, mas nunca um só.

Às vezes, a depressão surge como um sintoma de outro transtorno, o que dificulta ser enxergada ou, ainda, ela acaba por mascarar o que realmente está acontecendo. É uma doença multifacetada, ampla e perigosa que precisa ser avaliada com cuidado pelos profissionais e abordada na interface entre paciente e família para seu real entendimento e possibilidade de melhora dos sintomas.

A família é o local onde passamos a existir, é na interação com o pai, a mãe, irmãos, avós, entre outros, que nos constituímos como pessoas e que nossas características mais pessoais, mais individuais se constituem. Essas características são mais ou menos aceitas, mais ou menos estimuladas dentro da família, de acordo com a dinâmica de cada estrutura familiar.

Amor, proteção, carinho, cuidado são questões de necessidade maior em todos nós. Entender nossos limites, os limites do mundo, até onde cada um pode ir sem machucar o outro, perceber o tempo de cada coisa, as negativas que o mundo as vezes dá para coisas que queremos, também são de extrema importância e entender tudo isso vem junto com o amor. Na verdade, amor e limite andam juntos! Tudo que excede para um lado pode levar a um sentimento negativo de outro. Por exemplo: proteção excessiva dos pais pode levar a adultos inseguros e despreparados para a vida. Se visto somente por um lado, proteger os filhos nunca deveria se ruim, mas quando essa proteção impede o ‘des/envolvimento’ da pessoa, então, sim se torna um problema. E um problema vestido de amor... sem dúvida, nesse caso, não é a falta dele e sim a dificuldade de colocar na hora e dose mais acertada para cada um.

Todos querem ser aceitos pelo que são, pelas suas escolhas. Muitas vezes, ser quem se é implica em se fazer notar nas suas necessidades e vontades que podem ser bem diferente das do restante da família. E isso é bem difícil. Por outro lado, a família que busca fazer o que acredita ser o melhor para cada membro, sente-se impotente como sistema, o sentimento de culpa impera e isso causa ainda mais dor e sofrimento a todos.

Pois bem, daí uma pessoa que tem uma vida estruturada, com amor, cuidado, de repente se vê as voltas com uma situação tão ruim e é diagnosticada com depressão. Automaticamente vem a pergunta, mas por quê? E essa pergunta é feita por todos da família, inclusive por ela mesma. E, notem, não estou aqui falando somente de jovens, crianças depressivas, inseridas na família de origem, mas também de mulheres/ homens, mães e pais que já estão em sua família constituída e tem depressão.

Começam a busca por culpados: é o casamento, são os filhos, os pais, o trabalho..., mas na verdade, muito provavelmente, não é nenhuma dessas situações isoladas, talvez (e muito provavelmente) não se ache uma única razão, mas sem dúvida, a pessoa está se deixando para traz em algum lugar, em algum aspecto.

Ser quem se é de verdade não só não é fácil como requer uma dose de coragem extra e verdadeiramente grande. Por pior que esteja, o movimento de sempre é confortável, os sintomas são conhecidos e todos já se adaptaram a eles... por pior que seja. Mudar requer uma readaptação de todos. Cada um que já passou por mudanças significativas na vida, vindas de fora, como perda de emprego, morte de um membro importante da família, sabe o quanto é difícil se readaptar, mesmo que no final a mudança seja positiva, por exemplo uma mudança no rumo profissional há muito adiada. Essa readaptação mexe com a vida de todos, todos precisam rever sua posição dentro daquele sistema, todos precisam se responsabilizar por coisas novas.

Isso não é diferente quando falamos de um transtorno como a depressão, por pior que seja, sua exclusão de um sistema familiar também causa mudanças nem sempre fáceis de serem reorganizadas. Quantas vezes não me deparei com situações nos atendimentos em que um sintoma deixa de ser tão mobilizador em uma pessoa e outro surge em algum outro membro da família. É claro que ninguém quer sofrer, isso não ocorre propositalmente, surge como uma possível tentativa de manter o sistema funcionando. Também não estou dizendo que isso ocorre em todos os casos, mas em muitos. É importante, assim, sempre prestar atenção no ambiente em que a pessoa está inserida, em trabalhar a conscientização do papel de todos naquele sistema familiar, mesmo em uma psicoterapia individual. A pessoa nunca está sozinha em tratamento, sua família está com ela.